01/04/2005

AS TIME GOES BY

Na madruga em que as notícias sobre a saúde de João Paulo II são contraditórias e os sentidos estão suspensos do éter, recupero um post de Outubro de 2003:

As últimas aparições públicas de João Paulo II revelam um homem de corpo alquebrado e um rosto, quase sempre, atormentado por um "rictus" de dor. O Papa é a marca do sofrimento físico e ao mesmo da anulação desse sofrimento, entendido apenas como mais um sinal de provação do corpo. Este Papa peregrino já está para lá das limitações do que é apenas "corpore". A sua força interior, a sua determinação, ultrapassam as contingências que a idade não perdoa. Talvez por isso, seja tão amado pelos mais jovens. Carismático, afirmativo, combativo, de uma lucidez política impressionante, renovador e conservador, popular e introspectivo, contraditório quantas vezes, abriu a Igreja Católica ao mundo. Sem ter convocado um Concílio, como o Papa João, provocou um novo "aggiornamento" na Igreja do século XX. Muitas das consequências desta mudança apenas serão perceptíveis ao longo deste novo século que está a começar. O seu longo papado foi exercido sob o signo duma Igreja no meio dos homens. O exemplo pessoal de coragem e de sacrifício do Papa fazem mais pela Igreja e pela fé no homem em comunhão com Deus do que uma nova encíclica - perdoe-se-me a quase heresia. Olho para a foto que o
DN publica e fico impressionado. Penso que ninguém fica indiferente!

31/03/2005

AS PROPOSTAS DE REVISÃO DA LEI ELEITORAL QUE A MAIORIA SOCIALISTA NÃO QUIS DISCUTIR

No anjo mudo, como sempre, aqui ao lado, coloquei as propostas que apresentei na reunião de 11 de Março da Comissão Eventual para a Revisão da Lei Eleitoral (CERLE), destinadas a ampliar a revisão da lei eleitoral, para além das constantes dos ante-projectos apresentados pelos partidos políticos e da revisão minimalista que a maioria do PS impôs.
Das propostas por mim apresentadas, destaco três:
a) A criação dum círculo eleitoral que designei por "fora dos Açores", destinado àqueles que têm dupla residência - nos Açores e fora dos Açores - permitindo assim ultrapassar a limitação constitucional do velho círculo dos emigrantes.
b) A possibilidade de grupos de cidadãos apresentarem candidaturas à Assembleia Legislativa, acabando com o monopólio partidário nesta matéria;
c) A atribuição de competências à Região em matéria de consolidação técnica dos cadernos eleitorais, conhecida que é a sua manifesta desactualização.
As propostas que apresentei não "passaram do papel", por falta de vontade política do PS.
A revisão da lei eleitoral é muito pouco ambiciosa e restrinige-se, no essencial, ao mecanismo de criação dum décimo círculo regional de compensação, proposto pelo PS e pelo PP.
Os Açores perderam uma boa oportunidade de alterar - com profundo sentido político - a lei eleitoral, assumindo um conjunto de opções no domínio do direito eleitoral claramente ambiciosas.
Nem sempre as maiorias decidem bem!

A TRISTEZA DAS ÁGUAS

Dificilmente me lembro de coisa tão triste, como um barco a morrer. Humanizamos os barcos com nome de gente. Invocamos lugares, santos de especial devoção. Bazptizamos os barcos com emoção e ditreito a madrinha. Fazemos dos barcos extensões de nós, na vontade de enganar o mar. Umas vezes humildes, os barcos são apenas pobres embarcações quase de brindeira (como se fosse possível brincar com o mar). Outras vezes altaneiros, não resistimos à titaniquização.
Os barcos morrem sempre da mesma maneira: sozinhos! Resta apenas a fé: confundida com desejo, olhamos para um barco moribundo e pensamos que ainda é possível pô-lo a navegar.


A Mariana ardemar escreveu, a 19 de Março ( no dia do Pai), que os "barcos morrem enxutos", assinando uma fotografia de barco chamado "Felicidade dos Anjos". Assim, num texto sentido:

Os barcos jazem postos nos portos, varados, arrumados
de passado a tiracolo,trespassados por cinco balas de terra junto ao colo:
os barcos morrem enxutos.

ANDANDO POR AÍ...

Um velho poema de 1969 de Vitorino Nemésio. Enquanto escrevo, ouço o Requiem, de Mozart, pela Orquestra Filarmónica de Viena, dirigida por Von Karajan. A soprano é Anna Tomowa-Sintow. Velhos pecados de viajeiro!
A CAMINHO DO CORVO
A minha vida está velha
Mas eu sou novo até aos dentes.
Bendito seja o deus do encontro,
O mar que nos criou
Na sede de verdade,
A moça que o Canal trocou nos seus fantasmas
E se deu de repente a mim como uma mãe,
Pois fica-se sabendo
Que da espuma do mar sai gente e amor também.
Bendita a Milha, o espaço ardente,
E a mão cerrada
Contra a vida esmagada
Abençoemso o impossível
E que o silêncio bem ouvido
Seja por mim no amor de alguém.