22/11/2004

AS MÃOS E A PALAVRA
No "rush" do dia-a-dia, há um punhado de mãos com tempo para (re)escrever a palavra antiga. Um pouco por todo o país, gente do nosso tempo mergulhou na sabedoria da palavra do Senhor, num gesto ecuménico de partilha daquilo que afinal une milhões de pessoas por todo o mundo: chamando-lhe Deus, Javé ou qualquer dos nomes pelos quais é conhecido entre todos os cristãos, os portugueses uniram-se durante as últimas semanas para escreverem à mão a Bíblia, regressando de modo simbólico ao tempo pré-gutenbergiano.
Na era da cibernética, a palavra voltou a ter o peso ancestral, laboriosamente escrita à mão: a palavra medida, certa para caber no espaço, letra bonita e uniforme para ser legível, idêntica para não trair as emoções. Por alguns dias, graças à Sociedade Bíblica, os portugueses - e também os açorianos - voltaram a ser copistas. Um dos exemplares do labor copista destina-se à Biblioteca de Alexandria
Lembro aqui o princípio norteador das ordens mendicantes do século XIII "Aquilo que diz respeito a todos deve ser tratado por todos".
Como eu gostava de ter podido escrever aquele versículo do Eclesiástico que diz que há um momento para tudo e um tempo para cada coisa, sob o Céu.

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