13/07/2005

LENDO O PADRE ANTÓNIO VIEIRA


"Qui habet aures audiendi, audiat.
Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. Este aviso é de Cristo Senhor nosso. Mas por que o terá feito o Divino Mestre, que nunca disse uma palavra em vão? Não será que os ouvidos não servem senão para ouvir, e é inútil apelar ao que servem se a outra cousa não servem? Cristo sabia a quem falava, e conhecia os ouvidos de cada um dos Seus ouvintes. E, assim como há olhos que, olhando, não vêem, há ouvidos que, ouvindo, não escutam. (Quia videntes non vident, et audientes non audiente neque intellegunt.) Mas como pode acontecer que, tendo os ouvidos no ouvir a sua função, e havendo quem lhes fale, não ouçam? Ou porque os homens, ouvindo, não queiram ouvir (audientes non audiunt) ou porque não entendem (neque intellegunt). E são estas as piores formas de não ouvir, sendo a segunda sem malícia, por ignorância, e a primeira semelhante à maldade do Demónio, por não atender à verdade. Se aqui vindes para ouvir sem escutar, melhor fora que não viésseis nem vos falasse eu. Porque nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus. (Non in solo pane vivit homo, sed omni verbo quod procedit de ore Dei.) E a boca de Deus (oh! cristãos, indigníssimo sou eu de falar por ela), não vos é dada outra, agora, senão a minha. Mas, se não há quem fale, não há quem ouça; se não há quem ouça, não há quem escute; se não há quem escute, não há quem aprenda; e, se não há quem aprenda, não haverá quem saiba (...)"
Sermão na cidade de Angra

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