Recupero um texto, com dois anos, sobre o culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que nos identifica e singulariza como povo (também povo à procura de Deus).
Entre o céu e nós, estamos nós próprios. Neste fim-de-semana, no Campo do Senhor, independentemente das crenças pessoais de cada um, voltamos a convergir na aceitação de que há algo de diferente na mensagem cristã para o mundo.
Fazemo-lo por educação, por tradição, mas, sobretudo por convicção.
No respeito que exteriorizamos ao culto do Senhor Santo Cristo queremos significar a nossa condição humana, finita e efémera. É verdade que, muitas vezes, misturamos tudo: o divino com o pagão, o imaterial com o transcendente, o que vale a pena com o que não tem importância. A nossa natureza é mesmo assim. Por isso mesmo, os momentos de recolhimento que esta manifestação religiosa proporcionam têm um significado maior num tempo de espiritualidade conturbada, como aqueles que atravessamos.
Para os meus avós a religião assentava num balanço simplesmente maniqueísta entre o bem e o mal, feito de listas de deve e haver de pecados e de não-pecados. Era o tempo dum Deus inacessível, intransponível e a Sua igreja um repositório de proibições e restrições.
A minha geração procura uma igreja compreensiva, atenta, com amor, capaz de acolher, não apenas aqueles que são sempre facilmente recebidos em qualquer lugar, mas os outros - os que nunca são lembrados e que não têm sequer dinheiro para gastar na festa pagã deste fim-de-semana. Mas não só: o Senhor que vai sair hoje à tarde percebe bem o que quero dizer. Perceber os "sinais dos tempos" conciliares é também entender que a igreja tem de comungar as apreensões, as angústias de homens que vivem num tempo complicado, no qual a ritualização da fé não é suficiente, nem sequer o mais importante.
"Vimos o Senhor!", como escreve João. A frase dos Apóstolos que viram Cristo ressuscitado significa que O viram de modo diferente. Quando dizemos "vimos o Senhor" queremos sentir a intimidade de quem conhece, de quem acredita que vale a pena conhecer. Isto é, o código do catolicismo não é um cânone, uma regra, mas uma pessoa - Jesus Cristo - que sempre deu respostas e amor a pessoas concretas, de carne e osso.
Bernard Shaw escreveu: "libertei-me do suborno do céu. Cumpramos a obra de Deus por si mesma, porque a obra para cuja realização nos criou só pode ser executada pelos homens e mulheres vivas. Quando eu morrer, que o devedor seja Deus e não eu".
Gosto de pensar que naquele instante em que a imagem sai do Convento da Esperança, o Senhor está a olhar para mim e eu para ele. Sem que nenhum de nós esteja a pensar no céu!
Entre o céu e nós, estamos nós próprios. Neste fim-de-semana, no Campo do Senhor, independentemente das crenças pessoais de cada um, voltamos a convergir na aceitação de que há algo de diferente na mensagem cristã para o mundo.
Fazemo-lo por educação, por tradição, mas, sobretudo por convicção.
No respeito que exteriorizamos ao culto do Senhor Santo Cristo queremos significar a nossa condição humana, finita e efémera. É verdade que, muitas vezes, misturamos tudo: o divino com o pagão, o imaterial com o transcendente, o que vale a pena com o que não tem importância. A nossa natureza é mesmo assim. Por isso mesmo, os momentos de recolhimento que esta manifestação religiosa proporcionam têm um significado maior num tempo de espiritualidade conturbada, como aqueles que atravessamos.
Para os meus avós a religião assentava num balanço simplesmente maniqueísta entre o bem e o mal, feito de listas de deve e haver de pecados e de não-pecados. Era o tempo dum Deus inacessível, intransponível e a Sua igreja um repositório de proibições e restrições.
A minha geração procura uma igreja compreensiva, atenta, com amor, capaz de acolher, não apenas aqueles que são sempre facilmente recebidos em qualquer lugar, mas os outros - os que nunca são lembrados e que não têm sequer dinheiro para gastar na festa pagã deste fim-de-semana. Mas não só: o Senhor que vai sair hoje à tarde percebe bem o que quero dizer. Perceber os "sinais dos tempos" conciliares é também entender que a igreja tem de comungar as apreensões, as angústias de homens que vivem num tempo complicado, no qual a ritualização da fé não é suficiente, nem sequer o mais importante.
"Vimos o Senhor!", como escreve João. A frase dos Apóstolos que viram Cristo ressuscitado significa que O viram de modo diferente. Quando dizemos "vimos o Senhor" queremos sentir a intimidade de quem conhece, de quem acredita que vale a pena conhecer. Isto é, o código do catolicismo não é um cânone, uma regra, mas uma pessoa - Jesus Cristo - que sempre deu respostas e amor a pessoas concretas, de carne e osso.
Bernard Shaw escreveu: "libertei-me do suborno do céu. Cumpramos a obra de Deus por si mesma, porque a obra para cuja realização nos criou só pode ser executada pelos homens e mulheres vivas. Quando eu morrer, que o devedor seja Deus e não eu".
Gosto de pensar que naquele instante em que a imagem sai do Convento da Esperança, o Senhor está a olhar para mim e eu para ele. Sem que nenhum de nós esteja a pensar no céu!
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