17/11/2004

A PASTA DENTÍFRICA QUE NÃO VOLTA AO TUBO


1. A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA - O novo parlamento regional iniciou funções, num quadro de renovação dos Deputados dos vários partidos com assento parlamentar, podendo augurar um novo tipo de postura no debate parlamentar. Com excepção do líder do PP, os Deputados da geração dos "founding father's" já não estão no parlamento regional, marcando-se, deste modo, uma transição de gerações - natural, pelas leis da vida - no terreno parlamentar. A Assembleia Legislativa padece de velhos vícios - nas rotinas, no funcionamento, no afastamento dos cidadãos, na excessiva permissividade das regras de substituição dos Deputados, que confundem os eleitores e penalizam o trabalho parlamentar, na reduzida eficácia como órgão de fiscalização política e na reduzida produção legislativa - a corrigir ou eliminar com urgência, em nome da credibilização do parlamento.

O desafio é lançado à robusta maioria parlamentar do PS para que aceite reformar o parlamento, ao invés de efectuar meras operações de cosmética, como sucedeu com as alterações ao regimento por si aprovadas, há bem pouco tempo. As reformas não se concretizam com piedosas proclamações, mas com atitudes decididas.

2. A ELEIÇÃO DE FERNANDO MENEZES - A eleição do Presidente do Parlamento com menos votos do que qualquer um dos outros membros da mesa é um sinal inequívoco de que os Deputados não se revêem na sua actuação no cargo e, sobretudo, na subalternização do Parlamento à maioria do PS. O Dr. Fernando Menezes não pretende modificar nada no Parlamento, em consonância com a posição do seu partido, como ficou claro nas tíbias palavras que ontem proferiu, depois da eleição. Fernando Menezes não ambiciona nada e contenta-se com muito pouco!

3. O NOVO GOVERNO - O novo governo é uma espécie de "quinta das celebridades" do socialismo açoriano, combinando a boa tradição de promoção do aparelho socialista, com a tentativa de refrescamento com personalidades cujos percursos não demonstram qualidades para o exercício das funções. O tempo dirá se tenho razão ou não, mas estou convencido que neste governo há vários erros de "casting".

A novidade mais notória é a criação do lugar de Vice-Presidente do Governo, para Sérgio Ávila, uma das estrelas socialistas. Depois do Presidente do Governo ter afastado publicamente - em entrevista à RTP/Açores - a possibilidade do Vice-Presidente poder vir a ser o seu sucessor na liderança socialista, o que faz correr Sérgio Ávila?

O Dr. Ávila fará no Governo aquilo que de melhor sabe fazer: administrar as ambições dos outros e utilizar os lugares que ocupa para consolidar a sua posição política. O Dr. Ávila ganhou um presente envenenado: na formação do governo ajustou as suas contas políticas com os adversários internos da Terceira, pagando o elevado preço de ser arredado publicamente pelo Presidente do PS da lista dos potenciais sucessores. Porém, como sabemos, na política nada é eterno ou imutável?

Apesar de Vasco Cordeiro poder ter sorrido, a verdade é que no equilíbrio das posições relativas, saiu a perder para o Dr. Ávila. Acantonado nas relações com o Parlamento e tendo de gerir a truculência de Francisco Coelho, a posição do ex-Secretário da Agricultura é delicada.

Carlos César baralhou o jogo da sucessão, inevitavelmente aberto pelas suas próprias declarações, apresentando um governo renovado, mas modesto.

Quanto ao resto, todos sabemos muito bem que a pasta dentífrica nunca volta a entrar no tubo.

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