(Muro de Berlin - Julho de 1974)
O símbolo da "cortina de ferro" - na expressão de Winston Churchill - foi derrubado há quinze anos. Nessa noite todos sentimos berlinenses, cidadãos livres. A memória do dia convoca a expressão de John Keneddy, em 1963 - "Ich bin ein Berliner", o desafio de Ronald Reagan a Gorbatchov para que derrube o muro ou a visão persistente de Helmut Kohol. Mas, a memória deve também convocar o papel de João Paulo II, na mudança global na Europa de Leste, de que o derrube do muro é o sinal mais eloquente.
Transcrevo um texto que publiquei há 3 anos:
Os meus filhos apenas saberão que existiu um muro em Berlim através dos livros de história. Para eles, à distância dos anos, parecerá um absurdo. Para mim e para as gerações pós segunda guerra mundial, o muro de Berlim, cuja construção começou há quarenta anos, foi sempre uma ferida no coração da Europa e no coração da democracia.
Faz sentido, hoje, doze anos depois do seu derrube, lembrar o muro de Berlim? Faz tanto sentido como lembrar o holocausto e as suas vítimas, o Cambodja, Beirute, Mostar ou a ilusão Cubana, na semana em que Fidel fez setenta e cinco anos.
Em nome de uma ideologia, perante a avaliação equívoca das outras potências vencedoras da guerra, os soviéticos muraram um sector de uma cidade, pensando aprisionar os homens e as suas consciências.
Em nome dum marxismo igualitário, os soviéticos esmagaram as liberdades individuais em favor do ?bem-estar colectivo?. A realização do ?socialismo real? era a mola utópica que determinava tais actos.
Da utopia do ?socialismo real? pouco há a dizer, pois pouco resta nos dias de hoje. Contudo, é essencial que a nossa memória não se apague, sobretudo quando alguns, em nome deste socialismo, procuram fazer re-leituras da história, legitimando discursiva e intelectualmente alguns dos fundamentos que levaram à construção do ?muro da vergonha?.
A construção do muro foi um braço de ferro com a democracia. Com a democracia que hoje vivemos, com as suas virtudes, com os seus defeitos, com as suas imperfeições. Uma democracia contraditória, é certo, que não é o fim da história, no sentido que lhe deu Francis Fukuyama, mas que não precisou de construir muros para se impôr.
Milan Kundera dizia que a luta contra o poder (totalitário) era a luta da memória contra o esquecimento. Uma das viagens que mais contribuiu para a minha formação cívica e política, foi uma viagem a Berlim Ocidental e depois a Berlim-Leste, no início dos anos 80, ainda estudante de Direito. Impressionou-me muito sentir a cidade dividida, o contraste entre a vida junto ao muro, do lado ocidental, e o silêncio sepulcral na terra de ninguém, minada, vedada e vigiada, junto ao mesmo muro, do lado de lá, as tarjas pretas nas bandeiras dos Land de leste, no interior do Parlamento de Berlim. Para já não falar no choque brutal que era atravessar a fronteira e mergulhar em Berlim-Leste: um regresso ao passado, literalmente.
Tenho no escritório, dentro duma caixinha de vidro, um pedacinho desse muro. Para não esquecer!
Faz sentido, hoje, doze anos depois do seu derrube, lembrar o muro de Berlim? Faz tanto sentido como lembrar o holocausto e as suas vítimas, o Cambodja, Beirute, Mostar ou a ilusão Cubana, na semana em que Fidel fez setenta e cinco anos.
Em nome de uma ideologia, perante a avaliação equívoca das outras potências vencedoras da guerra, os soviéticos muraram um sector de uma cidade, pensando aprisionar os homens e as suas consciências.
Em nome dum marxismo igualitário, os soviéticos esmagaram as liberdades individuais em favor do ?bem-estar colectivo?. A realização do ?socialismo real? era a mola utópica que determinava tais actos.
Da utopia do ?socialismo real? pouco há a dizer, pois pouco resta nos dias de hoje. Contudo, é essencial que a nossa memória não se apague, sobretudo quando alguns, em nome deste socialismo, procuram fazer re-leituras da história, legitimando discursiva e intelectualmente alguns dos fundamentos que levaram à construção do ?muro da vergonha?.
A construção do muro foi um braço de ferro com a democracia. Com a democracia que hoje vivemos, com as suas virtudes, com os seus defeitos, com as suas imperfeições. Uma democracia contraditória, é certo, que não é o fim da história, no sentido que lhe deu Francis Fukuyama, mas que não precisou de construir muros para se impôr.
Milan Kundera dizia que a luta contra o poder (totalitário) era a luta da memória contra o esquecimento. Uma das viagens que mais contribuiu para a minha formação cívica e política, foi uma viagem a Berlim Ocidental e depois a Berlim-Leste, no início dos anos 80, ainda estudante de Direito. Impressionou-me muito sentir a cidade dividida, o contraste entre a vida junto ao muro, do lado ocidental, e o silêncio sepulcral na terra de ninguém, minada, vedada e vigiada, junto ao mesmo muro, do lado de lá, as tarjas pretas nas bandeiras dos Land de leste, no interior do Parlamento de Berlim. Para já não falar no choque brutal que era atravessar a fronteira e mergulhar em Berlim-Leste: um regresso ao passado, literalmente.
Tenho no escritório, dentro duma caixinha de vidro, um pedacinho desse muro. Para não esquecer!
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