Tanscrevo abaixo a crónica que publiquei no Açoriano Oriental de ontem. Nesta época pré-eleitoral, a entrevista de José Sócrates ao Expresso permite um conjunto de reflexões mais alargadas sobre a política e os seus protagonistas que procurarei ir fazendo neste ANJO DO MUNDO.
Há em José Sócrates uma perturbante tentação para a voragem da frase solta, para uma espécie de ?fast-food? político, de bom-tom, mas vazio de conteúdo. Para um homem que, como candidato a líder socialista, se assume também como candidato a Primeiro-Ministro, a entrevista que deu ao ?Expresso? é uma desilusão.
Se a entrevista é o espelho do pensamento político do mais do que certo futuro líder socialista, então o PS deve preparar-se para permanecer na oposição por longos anos.
Sem fulgor e sem rasgo, José Sócrates deixa arrastar a entrevista, sem que o comum dos leitores consiga perceber o quer para Portugal o homem que ambiciona sentar-se na cadeira na qual se sentou um dia seu mentor António Guterres. Sabemos que José Sócrates leu muito, tal a profusão de citações ? de Miguel Torga a Karl Popper ? mas ignoramos que propostas políticas o distinguem, não só dos outros candidatos, como do PSD e do PP.
Sócrates fala bem, mas a política não vive apenas de palavras bonitas ou dos recursos oratórios. Esta entrevista é negação da ambição dum líder: para se chegar ao poder é preciso mostrar ideias ou propostas e, depois, convencer as pessoas de que se é capaz de as executar, uma vez conquistado o poder.
José Sócrates candidato parece ter predido o fulgor de José Sócrates ministro, que enfrentou dossiês sensíveis nas áreas do ambiente ou da defesa do consumidor.
Com um discurso estilizado pela exposição mediática na RTP, ao longo dos últimos anos, Sócrates esqueceu a máxima que enunciou na entrevista: ?a política vive da verdade. Quando é baseada apenas no ?marketing? percebe-se logo o vazio atrás?.
Ungido pelos ?media?, desejado pelas bases socialistas cansadas da liderança pardacenta de Ferro Rodrigues, o Engº Sócrates está predestinado a ganhar: ganhará o momento e a liderança do PS. Não é o desejado, mas apenas o possível, na roda da sorte dos sortilégios em que a política é fértil. Ganhará, desejando que o destino e a circunstância lhe não roubem o desejado estatuto de candidato a Primeiro-Ministro. Entre este engenheiro e um outro engenheiro, vai um mundo de diferenças. Pobre PS!
Sem comentários:
Enviar um comentário